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Opinião: Daphne Du Maurier — A Prima Raquel

Há algum tempo falei dos contos da Daphne Du Maurier e contei-vos que senti falta de uma atmosfera mais envolvente. Resolvi voltar a ler a autora e não podia ter feito melhor escolha do que A Prima Raquel.

Aqui temos um permanente clima de incerteza, praticamente desde o início do livro. Quem é a prima Raquel e quais as suas motivações? Será que ela amou Ambrose? Seria que só queria o dinheiro? Está a cuidar de Philip? Ou a manipulá-lo?

Durante toda a leitura vamos recebendo pistas contraditórias e, tal como o Philip, navegamos num universo de incertezas e frustrações. É ele o nosso narrador e, ao conhecermos apenas aquilo que Philip conhece, conseguimos sentir-nos parte da história, a sentir o seu desespero, a empatizar com ele e a tentarmos, também nós, entender a verdade.

Além de toda esta atmosfera de dúvida, de introspecção, de luta por saber o que é real e o que é fruto de uma obsessão, Daphne também cria uma hábil demonstração dos sentimentos mais básicos do ser humano. Ciúme, solidão, necessidade de poder, de aceitação, obsessão, controlo. 

Cria uma atmosfera tão envolvente e tão completa que não queremos sair dali. Li este livro em três dias, mas se tivesse conseguido arranjar tempo, era daqueles que podia ler num só fôlego.

Sei que Rebecca é o livro mais comentado de Daphne Du Maurier, mas tenho que dizer que gostei muito mais deste. Ambos conseguem construir a atmosfera de incerteza que tanto gosto, mas o final de A Prima Raquel fala-me mais ao coração.

⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

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