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Opinião: Joseph Sheridan Le Fanu — Carmilla

Sobre este livro, quero falar-vos de dois temas diferentes: a história em si e a contribuição da Carmen Maria Machado.

Vamos começar pelo que é mais importante — a história.

Carmilla é uma história de vampiros, mais propriamente, de uma vampira. Foi escrita entre 1871 e 1872 (foi publicada primeiro em capítulos na revista Dark Blue) e introduziu na literatura a mulher vampira a que estamos, hoje, habituados — uma beleza singular, que nos atrai de forma irresistível. Um misto de inevitabilidade perante algo belo, mas que sabemos ser sombrio.

Esta obra introduziu também a sexualidade do vampiro/a que conhecemos hoje. Sempre muito sexuais e sem pudores quanto a género (ou mesmo a idade — Entrevista com o Vampiro, estou a falar de ti). No entanto, tendo sido escrito na altura que foi, todas estas menções são feitas de forma muito cuidadosa e ambígua.

Esta história lê-se num sopro. Tem menos de 140 páginas e a ação é sempre muito rápida. O que mais me atraiu na história foi a relação de Laura (a protagonista) com Carmilla. Uma espécie de dependência, onde duas pessoas muito solitárias se encontravam.

É literatura gótica e eu, como apreciadora (apaixonada?) que sou, recebo de braços abertos os castelos, os nevoeiros e as mulheres que se cansam facilmente.

Tenham em conta que esta história foi uma das fundadoras das histórias de vampiros que conhecemos hoje, por isso, dificilmente vão ficar surpresos com algo. No entanto, vale muito a pena ler Carmilla, não só pelo seu papel na história dos vampiros em si, mas como pelo enredo propriamente dito. Ideal para começar e terminar numa tarde de sofá.

Agora, sobre o contributo da Carmen Maria Machado.

Vou só focar-me na introdução e nas notas de rodapé: vamos começar pelo mais fácil, a introdução. Eu nunca leio as introduções antes do livro — já aprendi. Têm quase sempre spoilers. CMM dá-nos uma perspectiva muito interessante sobre a origem desta história, mas acho que não perdem nada em ler a introdução no fim.

Já as notas de rodapé — não percebo porque foram acrescentadas. Muitas são informações extra, mas não pertinentes o suficiente para justificar a interrupção da leitura. Outras, pasmem-se, dizem-me o que imaginar “Imagine it, reader: a river of blood”. Ser interrompida para me ver forçada a uma perspectiva… não, obrigada.

Mas a pior, para mim, foi aquela nota de rodapé, bem no início da história que me conta o desfecho… Na verdade, eu percebo a intenção das notas de rodapé. CMM olha para toda esta edição como um estudo, uma análise a Carmilla, mas, acima de tudo, eu queria ler a história e DEPOIS ter a análise. Aprecio muito toda a informação extra, mas acho que devia ter sido passada de outra forma — talvez um texto mais longo no final.

Dito isto, recomendo muito Carmilla, tanto para os conhecedores do género como para quem procura uma história de vampiros mais levezinha.

Já leram Carmilla? Qual é a vossa história de vampiros preferida?

⭐️⭐️⭐️⭐️

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