Opinião: Joyce Carol Oates — Night. Sleep. Death. The Stars
Permitam-me começar esta opinião com a primeira nota que tirei: “Dificuldade em relacionar-me com as personagens. Parecem histórias tão típicas, mas sem grande profundidade”. Foi assim que comecei, e pensei que ia ser uma viagem pouco simpática — 1000 páginas com personagens que não me diziam nada.
Não podia estar mais errada.
Nunca tinha lido Joyce Carol Oates, mas estava na minha lista há muito tempo — e ainda bem que comecei. Nem sei bem como escrever esta opinião, mas JCO deu-me uma chapada de luva branca. As histórias são típicas, sim, no sentido em que podem acontecer a qualquer um, mas estão longe de ser superficiais.
E, não me tendo identificado propriamente com as personagens, identifiquei-me com partes de cada uma. E, mais importante, JCO mostrou-me que, por vezes, não temos que nos identificar, basta compreender.
Night. Sleep. Death. The Stars. explora o comportamento de uma família quando o pilar deixa de cumprir o seu papel. Entramos numa viagem tão pormenorizada, tão realista à vida de cada um e à forma como se relacionam entre si que senti que estava na sala com eles, que era um espectro invisível a ver tudo aquilo desenrolar-se à minha frente.
“Listen. We will tell you who you are.”
Toca temas como racismo, classes sociais, luto, sobrevivência, mudança. E fá-lo de várias perspectivas diferentes. Uma das filhas, Lorene tem um comportamento muito peculiar (sem spoilers) e JCO fez-me desviar os olhos, incomodada.
“The widow is trapped in graciousness like an insect on honey, too demoralized to buzz or flutter her wings in protest.”
A escrita em si é melódica e envolvente, sem ser cansativa. O livro é imenso e praticamente não tem ação, mas nunca me senti cansada. Senti-me muita coisa, mas nunca aborrecida.
“In the very writing, the forgetting.”
Pela sua dimensão e quase ausência de ação, pode não ser um livro para todos os leitores, mas, se ficaram curiosos — leiam.
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️