em abril, falamos sobre começar

Num mundo em que cada vez mais queremos conseguir, chegar, alcançar, atingir, vamos antes falar sobre começar. Se pensarmos bem, começar é melhor do que chegar. Pensem no entusiasmo que sentem quando começam algo. A sensação de vertigem. Aquela excitação da possibilidade, do acreditar, do sentir que é possível, que o mundo não tem limites. Sim, alcançar também sabe bem, mas é o fim da viagem. E pode mesmo ser o nosso próprio fim, se nos focarmos no alcançar antes de saborearmos o começar.

Sabem quantos sonhos ficam pelo caminho porque começamos a fazer contas? Porque começamos logo a pensar como podemos chegar aquele lugar que, por algum motivo, acreditamos ser o lugar a alcançar? Eu não sei, mas vou arriscar e dizer que são muitos.

Esta é a minha primeira carta. Vai ser, correndo bem, uma carta mensal. Um género de resumo do mês. Algo descomplicado onde falo convosco, partilho o que estou a ler, recomendações (se as tiver) e vos falo do que publiquei durante o mês anterior, com mais detalhe. A newsletter ainda está a começar e, por isso, vou deixá-la experimentar, molhar os pés, andar para a frente e para trás como bem lhe apetecer.

Espero que se juntem a mim nesta viagem de experimentação.


Escrevi mesmo antes da festa há, talvez, um ano atrás. Como a maioria daquilo que escrevo, ficou sossegado numa pasta. Não finalizado, mas já com vida própria. Depois, um dia, estava a pensar que devia voltar a escrever e que uma boa forma de o fazer seria voltar a publicar. E assim, limei umas arestas e submeti-o para a Fábrica do Terror (para quem não conhece, é um espaço dedicado a promover o terror português), e lá foi ele, para o mundo.

Quando criamos, nada está finalizado. Estamos sempre a começar, a desvendar, a experimentar. Mas há um momento em que temos de dizer que está pronto. Nem que seja pronto para começar.

Partilhar aquilo que escrevo é sempre um momento feito do seu próprio terror. É trazer cá para fora aquilo que, na verdade, nasceu de nós — sim, mesmo que seja ficção. Digo escrever porque é o que faço, mas desconfio que este seja um sentimento comum a todos aqueles que partilham arte. Que pegam em algo que é subjetivo e partilham com o mundo, na esperança de encontrar alguém que veja o mesmo que nós.

Como se partilhar o que escrevo não gerasse ansiedade suficiente, decidi aumentar o (meu) terror e experimentei gravar uma versão áudio desta história. Percebi rapidamente que não sabia narrar. Mas não aprendemos nada se não fizermos, por isso, esta versão é o melhor que consigo hoje. Espero continuar a melhorar. Quem sabe se, daqui a um ano, já o farei melhor?

Podem ouvir, ou ler, no link abaixo.

~

mesmo antes da festa é uma história que podia ser verdade. É uma história que é verdade, de uma forma ou de outra.


A ler

This is not for you.

House of Leaves começa assim mesmo, a empurrar-me, sem retorno, para uma experiência onde me vejo, constantemente, a pensar: mas espera, isto é ficção? Depois penso na casa e, claro, é ficção, mas está criado (ia dizer escrito, mas é mais do que isso) para ser imersivo. Para pegar em nós e nos atirar para o meio de algo esquisito que se está a passar. Cheio de perguntas, vazio de explicações. Sinto que estou sempre com a cabeça de lado, com aquele expressão “o que vem aí?” Gosto.

Estava na minha estante há séculos, mas a Carolina deu-me o empurrão final. Ganhei coragem e embarquei nesta viagem. Não pesquisei muito sobre ele, porque, cada vez mais, gosto de ir sem saber ao que vou. Não vou partilhar a minha opinião agora, porque ainda estou muito longe do fim. É uma partilha do que estou a ler neste momento — pode ser que vos inspire (partilhem comigo se assim for).

livro House of Leaves

I knew who I was this morning, but I've changed a few times since then. Lewis Carroll, Alice in Wonderland

Por agora, é tudo o que tenho para partilhar convosco. Espero que esta carta vos tenha feito boa companhia. Vemo-nos em breve.

marisa

 

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