Opinião: Rachel Cusk— Outline
Uau. Quase que me apetece dizer que este livro não é um livro. É tão diferente daquilo que estamos habituados a ler, que parece, tal como o título nos diz, apenas um esboço, um guia para ser trabalhado depois.
Outline de Rachel Cusk é um conjunto de dez conversações. É só isso, dez conversas diferentes, com pessoas diferentes, onde o denominador comum é apenas a personagem principal — Faye.
Mas é a qualidade destas conversas que nos deixa impacientes por mais. Estas personagens são tão densas e as suas conversas tão honestas, que ficamos de olhos abertos a olhar para o livro — porque não existem no mundo “real”.
São mergulhos naquilo que somos, naquilo que gostávamos de ser e naquilo que os outros gostavam que fôssemos.
Parece que Rachel Cusk estava a criar as personagens que queria ter no seu livro e usou estas conversações para as conhecer, para saber quem são realmente. Pode parecer aborrecido, e talvez nas mãos de outro escritor o pudesse ser, mas Rachel Cusk consegue transformar conversas em verdadeiras experiências onde não conseguimos evitar fazer o paralelismo com a nossa própria vida.
A escrita é suave, como a água a bater levemente na areia, envolve-nos e não queremos deixar de a escutar.
“For a few weeks he lived in a state of pure illusion which was really numbness, like the numbness that follows an injury, before pain starts to make its way through it, slowly but relentlessly finding a path through the dense analgesic fog.”
Este é o primeiro livro de um trilogia, ainda não li os restantes, mas quero fazê-lo.
Outline está editado em português pela Quetzal com o título “A Contraluz”.
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
